A casa dos sonhos

Há poucos dias estávamos em casa, em meio a uma semana especialmente desafiadora no trabalho para nós dois, quando o hubby entrou no banheiro e eu estava há uns vinte minutos, após o banho, enrolada na toalha, sentada no tapete, tomando forças para seguir vivendo (dramática ela, né?). Ao me perguntar se estava tudo bem, respondi "sabe quando tudo o que você queria era se isolar em uma cabana, no meio do mato?", e ele logo concordou "sei bem". Corta para esse momento agora, em que estou trabalhando sob o sol, com uma vista incrível de verde e mar, ao som do vento e passarinhos. E nessa paisagem, me deparo com a casa dos meus sonhos

Quando fecho os olhos e imagino a minha vida dos sonhos, na minha casa dos sonhos, não me vejo em uma cobertura de luxo, em uma cidade onde tudo acontece como São Paulo, ou Nova York, ou Londres. A verdade é que quanto mais fui me conhecendo, mais me descobri uma pessoa que aprecia demais o silêncio, a rotina, a tranquilidade, um ambiente confortável, aconchegante, organizado e belo - organização e beleza, seja ela qual for e como for, me trasmitem paz e um sentimento gostoso. E me permitindo ser clichê, descobri o tanto que estar próxima à natureza me ajuda a equilibrar as energias, como me faz bem, especialmente nos dias mais desafiadores.

Mas não sejamos hipócritas, eu sei - eu sei bem - que essa minha casa dos sonhos é um tanto ambiciosa. Uma casa tal qual imagino, em um local tão privilegiado tal qual imagino, certamente custa um tanto que hoje só cabe nos meus sonhos. Provavelmente leve anos, décadas até que deixe de ser um sonho para ser uma possibilidade. E agora aqui vem uma dose dura de realidade que tendemos a ignorar, mas faz toda a diferença: pode ser que essa casa dos sonhos nunca aconteça.

Longe de mim ser aquela pessoa pessimista, que joga o balde de água fria nos sonhos alheios. Mas a vida acontece, e os motivos para essa casa dos sonhos nunca se tornar realidade são muitos, inúmeros, quase infinitos considerando todos os desdobramentos que a vida pode ter a cada instante. Mas veja, talvez essa casa dos sonhos nunca aconteça... o que não quer dizer que você nunca terá nenhuma casa dos seus sonhos.

Você certamente já ouviu frases do tipo "viva o presente", "ninguém sabe o dia de amanhã", "a gente precisa ser feliz hoje", "a vida é muito curta"... mas já reparou a facilidade que temos em não dar ouvidos, em não processar e entender de verdade o que isso significa, de não lidar com essa realidade que nos apavora? E se o amanhã não chegar? Você teria sido feliz e aproveitado ao máximo o que cada dia tem para te oferecer? O presente teria valido a pena, ou todas as suas fichas estariam no futuro?

Respondendo por mim, na maioria dos dias, a resposta seria um doloroso "não, eu não contei com o presente como poderia, como deveria". Dizem que essa é uma das maiores viradas de chave que o envelhecer nos proporciona: a noção de que o tempo é finito e o amanhã é incerto. Mas embora eu ainda tenha muito a evoluir nesse quesito, seja por trabalhar com interiores, seja por ter me mudado tanto (tanto!) nos últimos anos, no que diz respeito à casa eu posso dizer que SIM, eu vivo na minha casa dos sonhos todos os dias.

Muito distante daquela A casa dos sonhos do começo do texto, e ainda muito distante de todo o potencial que essa casa atual pode ter e de tudo o que quero nela fazer, mas na sua melhor versão, com o máximo de cuidado e capricho que posso para fazê-la dos sonhos hoje.

Sonhar é uma delícia, sonhar é preciso, mas isso não deve te impedir de viver a realidade presente. Sonhe sim, sonhe muito. Se planeje, se organize e faça o que estiver ao seu alcance para realizar esses sonhos, para ter a sua casa dos sonhos. Mas sem deixar de lado a sua casa hoje. Dentro das suas possibilidades, faça o melhor que puder para viver em um espaço que te faça mais feliz, que te abrace hoje. Vai por mim: nos dias que te faltar força até para levantar do chão do banheiro, você vai querer estar em uma casa que te acolha - seja ela qual for.