A pressa é a inimiga da...
- Aline Paiva
- 15 de ago. de 2023
- 5 min de leitura
Imagine a cena: o verão chegou, você combina uma viagem com as amigas à praia. Chegando lá, você encontra a Mariazinha, que você não via há meses. Mariazinha, assim como você, sempre desejou ter o tal "corpo dos sonhos"... mas a verdade é que aqueles 4 ou 5 quilinhos a mais que separavam vocês do tal shape nunca incomodaram a ponto de valer seguir a dieta por muito tempo, levantar cedo para ir à academia nos dias frios. Pois naquele verão, lá estava Mariazinha desfilando O corpo dos sonhos e, quase como um reflexo natural, você lança a pergunta: "o que você fez?" - quando na realidade, lê-se nas entrelinhas "qual o segredo"?
Na esperança de ouvir sobre algum chá novo, algum suplemento milagroso, ou alguma nova dieta secreta das famosas que promete "secar 10kg em 5 dias", para a sua decepção, você escuta por 10, 20, 30 minutos Mariazinha contar que meses atrás ela procurou uma nutricionista e vem seguindo desde então o plano alimentar proposto. Que há meses tem reduzido o consumo das gostosuras calóricas e dos drinks. Além disso, antes ainda de procurar por orientação nutricional, há pouco mais de ano que havia incluído na rotina fazer atividade física, e desde então vinha mantendo uma rotina ativa. Mariazinha conta com orgulho como agora tem dormido melhor, como não sente mais tantas dores nas costas, sua barriga não fica mais tão inchada. Como já não é mais um desafio seguir uma alimentação saudável e como, na realidade, gosta de treinar pelas manhãs.
Você revira os olhos, frustrada. Aquela era a última coisa que você queria ter ouvido. Você já não tem mais 20 ou 30 anos, e sabe bem o caminho. Sabe bem como é preciso ter uma paciência e uma disciplina que - sejamos francos - te da preguiça só de pensar. Você aguarda ansiosamente pelo dia em que vão te contar algum truque, algum segredo para ter "o corpo dos seus sonhos" em poucos dias, e, de preferência, com pouco esforço.... ah, e sem fazer mal à saúde, claro. Saúde em primeiro lugar.
No quesito "corpo dos sonhos", você sabe que não existe atalho. Que não dá para ter pressa. Que qualquer atitude radical te cobrará um preço, e ainda assim não te trará exatamente o que você sonha. Pois é...
O mesmo vale para uma carreira sólida e bem-sucedida. O mesmo vale para o seu relacionamento. O mesmo vale para a sua saúde física e mental. O mesmo vale para a sua "casa dos sonhos".
Estamos acostumados a desejar e sonhar com coisas que são o resultado de todo um caminho que envolve planejamento, envolve foco, envolve restrições, auto-conhecimento, paciência.
Eu acredito que os clichês existem porque, queiramos nós admitir ou não, eles são reais. Quantas vezes já ouvimos que "o que vem fácil, vai fácil"; que "não existe almoço de graça"; que "de vagar se vai longe"; que "a pressa é a inimiga da perfeição"? - ou nesse caso, a pressa é a inimiga da decoração (eu sei, péssimo trocadilho. Usei todas as minhas forças para não colocar no título do post, mas o meu lado "piada de tiozão" é mais forte que eu).
Eu tenho certeza que você já esteve em 2 tipos de casa:
aquela onde você fica encantado por tudo, onde parece que tudo ali faz sentido naturalmente. Você se sente bem, se sente acolhido. É a cara da pessoa, você sente inclusive que conhece mais sobre quem mora ali, e tem a certeza que estar ali significa que você são um pouco mais íntimos do que antes. Fica se perguntando onde será que vendem esses objetos, como será que faz para coordenar tudo daquela maneira.
aquela onde tudo é lindo, até impecável. Parece ter saído de uma revista! Você acha tudo muito bonito, tudo de muito bom gosto. Mas por algum motivo você sente uma certa frieza, um certo afastamento. Você olha e olha, mas não sabe dizer o que tem de errado, o que está faltando, ou apontar algo que você não gosta. Mas por algum motivo, apesar de toda perfeição, parece que falta alguma coisa ali.
Sabe o que está faltando? Tempo. Vou te contar algo que eu só descobri quando passei a trabalhar nessa área: as fotos que vemos em revistas são produzidas justamente com a intenção de retirar dos ambientes os objetos muito pessoais, que deixam a casa com a personalidade dos donos. O objetivo dessas fotos é, justamente, criar ambientes lindos e que, ao mesmo tempo em que criam a ilusão de ser a casa de alguém real, funcionam quase como uma "tela em branco" e te permitem se imaginar ali. Portanto, estamos falando de ambientes lindos, mas basicamente impessoais.
É isso o que acontece quando você, na melhor das intenções, passa meses, anos se preparando para ter "a casa dos sonhos", reúne centenas de imagens de referências, faz uma boa reserva financeira que te permita comprar (quase) tudo que deseja, pesquisa todas as lojas... até que, enfim, você realiza o seu sonho, faz tudo novo, compra tudo novo. Exatamente como nas revistas (ou no Pinterest). Mas embora você não admita aos outros, no fundo você segue sentindo que falta algo. Você ama a sua casa, ela está linda, perfeita. Mas por algum motivo a casa da sua avó, da sua tia, a sua casa de infância parecem mais gostosas.
O que tem nessas casas de anos é exatamente o que falta na sua casa de revista: são as histórias, os signigicados, as lembranças por trás de cada objeto. Na ânsia de criarmos a casa dos sonhos, esquecemos que o resultado está diretamente ligado à forma na qual você viveu o processo. Assim como no caso da Mariazinha na praia, não existe truque, não existe segredo. Existe por trás um longo período de dedicação, todo um caminho a ser percorrido.
Uma casa preenchida toda de uma única vez, por objetos (lindos, porém) aleatórios, jamais vai te abraçar como uma casa preenchida ao longo do tempo, com objetos que contam a sua história vivida.
Por isso é tão importante olharmos para a nossa casa com outros olhos. Quando mudamos a nossa relação com a casa, quando o cuidar e o zelar pela casa passa a fazer parte do cotidiano, quando buscamos fazer o melhor com o que temos hoje, quando caprichamos todos os dias nos detalhes mais simples, finalmente aprendemos a curtir o processo. Está aí: mais um clichê, que transborda verdade.
Se você encarar o decorar a sua casa como algo pontual, com começo-meio-e-fim, você poderá ter uma casa linda de revista. Mas se você o fizer ao longo da vida, de forma contínua, terá em cada etapa uma casa linda, única, com sentimento, com história, com alma.











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