top of page

O quarto do meu filho

  • Foto do escritor: Aline Paiva
    Aline Paiva
  • 10 de out. de 2023
  • 5 min de leitura

Ditar regras definitivamente não faz meu estilo, que sejamos livres para viver e morar como fizer sentido. Entendo o meu papel de designer como alguém que facilita o processo de descobrir e expressar a individualidade de cada um - baseada, porém não restrita, no meu conhecimento técnico, na minha sensibilidade, no meu olhar.


E se nem no que diz respeito à minha profissão eu me vejo impondo regras, certamente não seria na maternidade que eu o faria. A minha impressão é que nunca foi tão difícil ser mãe. As questões provavelmente sempre existiram, mas talvez a ignorância e o isolamento fossem uma benção. Havia antes uma chance maior para que as mães pudessem se descobrir como mães, vivenciar, experimentar, e chegar às próprias conclusões do que fazer e como fazer. Hoje em dia, em um minuto estamos vendo o positivo no teste de gravidez e no outro já temos na tela do celular gente dizendo que o parto tem que ser assim e gente dizendo que tem que ser assado. Que a amamentação tem que ser XPTO. Que a alimentação precisa ser de tal jeito. Que o sono isso, que o banho aquilo. E na mesma proporção, gente dizendo tudo ao contrário. Que você deve seguir todos esses padrões, que até vendo de fora, me parecem impossíveis... caso contrário você será menos mãe, uma mãe pior, e estragará a vida do seu filho.


Então, longe de serem regras, longe de serem a única ou a melhor forma, eu reuni aqui as escolhas que eu faria para o meu filho (hipotético rs), caso fosse iniciar hoje o projeto do seu quartinho. Que sirva de inspiração, que sirva de reflexão, e que você leitora/leitor se sinta à vontade para discordar de absolutamente tudo, e fazer tudo diferente. Então vamos lá!



ACABAMENTOS e MOBILIÁRIO


Sendo o quarto da criança parte da casa, eu seguiria a mesma base do restante da casa. O mesmo piso, o mesmo padrão de armários, cortinas, de iluminação geral (spots ou plafons). Dessa maneira, garantimos que haja uma unidade em toda a casa e que, no futuro, independentemente da idade ou do uso daquele quarto, a base neutra e atemporal se mantém.


Falo tanto sobre fazermos boas escolhas e focarmos no aspecto atemporal, justamente para que seja possível usar o que compramos por muito tempo. Não é sustentável para o planeta, nem para o nosso bolso, ficar trocando os acabamentos e móveis da casa a cada 3, 5, 7 anos! No entanto, especialmente na primeira infância, a velocidade com que os pequenos crescem e evoluem é impressionante - e o quarto precisa acompanhar esse processo.


Por isso, naquilo que fosse possível, eu focaria no longo prazo, na adaptabilidade dos móveis. Uma mesma cômoda pode servir de trocador para o bebê, e guardar roupas de um pré-adolescente no futuro. Existem berços que com pequenos ajustes se transformam em caminhas baixas, depois em camas tradicionais, escrivaninhas com ajuste de altura do tampo, mesinhas de atividades que viram poltronas... Ainda que o investimento inicial possa ser maior, o tempo de uso ao longo dos anos o torna justificável.

Ainda na escolha dos móveis, eu priorizaria tudo o que pudesse incentivar a autonomia e independência das crianças desde muito cedo (procure por "móveis Montessori"). Então é fundamental prestar atenção na altura dos objetos, nos tamanhos, na acessibilidade, na segurança. Como exemplos práticos: camas no nível do chão, ao invés de altura tradicional, durante os primeiros anos, brinquedos armazenados na altura e de maneira em que a criança consiga acessá-los sozinho. A ideia por trás é criar um ambiente de aprendizado que estimule a exploração, a criatividade e a independência das crianças, permitindo que elas se envolvam em suas atividades de maneira autônoma.



DECORAÇÃO e FUNCIONALIDADE


Assim como a base do quarto seria a mesma do restante da casa, o estilo conversaria com o estilo da casa. Novamente para mantermos a unidade, mantermos uma mesma linguagem. Sendo a minha casa contemporânea, com uma estética mais clean, eu não faria um quartinho todo clássico, por exemplo.


Eu também fugiria dos quartos temáticos (princesa, floresta, espaço, unicórnio, super herói, etc). Veja, não estou falando aqui de ter alguns objetos, algumas referências. Estou falando daqueles quartinhos dignos de um parque da Disney, onde adentramos um novo mundo de tema único. Me gera estranheza "impor" a um bebê ou a uma criança pequena uma única possibilidade, que talvez ela nem fosse demonstrar interesse. Eu prefiro a ideia de deixar que ela entre em contato com diversos assuntos, diversos temas, e fosse aos poucos expressando e escolhendo aquilo que encantasse seus olhinhos. Naturalmente, com o passar dos anos, cada vez mais teríamos no quarto da criança elementos temáticos... mas seriam por escolha dela, e não minha. Ao criar uma base mais neutra, temos também mais flexibilidade para ir ajustando os elementos soltos da decoração conforme os interesses das crianças forem mudando - dado que, como todo mundo que já conviveu com crianças sabe bem, elas costumam ter fases muito intensas e breves. Hoje amam trens, amanhã estão obcecadas por dinossauros. Nesse cenário, o que eu faria se o quartinho tivesse trem em cada detalhe? Prefiro a versatilidade.


Quando eu falo "base neutra", eu sei que muitos já imaginam tons de branco, bege, cinza. Sem cores, tudo muito sério. Mas não precisa ser assim. Inclusive, considero de extrema importância que quarto infantil seja colorido, seja lúdico. É comprovado que existe uma relação direta entre as cores e o desenvolvimento cognitivo, emocional e sensorial das crianças. As cores intensas são mais estimulante visualmente, estimulam a expressão da personalidade, da criatividade. As cores mais suaves ajudam a criar um ambiente acolhedor, mais tranquilo, facilitando o descanso e um sono de qualidade. Por isso, é importante equilibrar o uso de cores em um quarto infantil. É totalmente possível criar um ambiente colorido e estimulante, sem torná-lo excessivamente agitado ou caótico.


Por fim, criança é criança, e criança brinca! Eu me atentaria para garantir que o cômodo tivesse o máximo de espaço livre para brincar possível. Com casas e quartos cada vez menores nas construções recentes, espaço livre tem sido uma raridade e um desafio, de modo que muitas vezes a brincadeira acaba acontecendo em outro ambiente. Seja no quarto, na sala, na brinquedoteca, no quintal, eu investiria em organizadores neutros, que seguissem um mesmo padrão, de diversos tamanhos. Eles são super versáteis, vão acomodar os brinquedos de todas as fases da criança, e de quebra ainda ajudam a manter um visual mais clean. No meu Instagram eu postei um vídeo justamente com referências de como organizar os brinquedos das crianças - se você não viu, é só clicar aqui.


.

.

.


Pode ser que, se um dia eu tivesse filhos, eu faria tudo diferente? Com certeza!


Mas por ora, com a racionalidade e o relativo sossego de quem está vendo de fora, seriam essas as minhas escolhas.

 
 
 

Comentários


DSC00655_edited.jpg

Prazer, Aline!

A minha magia é tornar real. ​Meu objetivo é criar soluções de design de interiores e curadoria de objetos significativos para decoração de casas que proporcionem conforto e segurança.

Receba os posts no seu e-mail

Obrigado por assinar!

  • TikTok
  • Instagram
  • Pinterest

O primeiro passo para o lar dos seus sonhos

Aline Paiva 2023 © Design de Interiores - Todos os direitos reservados.

bottom of page